OS GRANDES CAFEEICULTORES DO SÉCULO XIX EM ITATIAIA - Alda Bernardes de Faria e Silva
A denominação de nossos avós para a planta do café era “Cafezeiro”, mas o dicionário diz “Cafeeiro”.
O cafeeiro crescia espontâneo e sem necessidade de plantio entre os etíopes e abissínios de priscas eras.
Seu
fruto era aproveitado para beberagem por aqueles povos africanos, desde
os tempos remotos. De lá, seu uso passou aos persas, destes aos árabes,
que o disseminaram a partir do século XV. Suas sementes espalharam-se
por todo mundo islâmico. Foram levadas de Meca por peregrinos em
caravanas religiosas ou comerciais. O café ganhou o Egito, conquistou os
turcos. Chegando a Constantinopla, foi introduzido na Europa.
Os portugueses, contornando a África, descarregavam em Lisboa as especiarias asiáticas.
No século XVIII já se bebia café em Londres e Paris, que se converteu daí na bebida da moda.
Procedia da Arábia todo o café que o mundo civilizado de então absorvia, em pequena escala.
Na
América do Sul, a planta do café entrou através da Guiana Francesa.
Coube ao brasileiro Melo Palheta o mérito de transportar da colônia
francesa, para nossa terra, as primeiras sementes do Cafeeiro, que foram
plantadas em Belém do Pará, em 1722.
De mão em mão, as sementes partiram para a província do Maranhão na década de 1770.
Em
1774 foi o café introduzido na cidade do Rio de Janeiro; duas mudas que
aqui no Sul cresceram e floresceram em jardins, multiplicando-se
sementes, até que (um estrangeiro) Van Mooke, holandês, chegar a
plantar 100.000 pés, formando o primeiro cafezal, na periferia da Corte.
Tanto êxito financeiro lhe foi proporcionado, que todo resto do país,
de norte a sul, entendeu que uma nova mina havia aparecido da cor
atraente das emeraldas e produzia frutos de rubi.
Já na primeira
década do século XIX, as mudas iniciais foram trazidas para Resende,
muitos grãos da rubiácea vieram pelas mãos do Padre Antonio Couto da
Fonseca, do Rio de Janeiro.
CULTURA DO BENEFICIAMENTO DO CAFÉ
Após
o desmatamento dos morros arredondados ou “meia laranja”, que cobriam o
Vale do Paraíba, começava-se a fazer as covas para o plantio das mudas
de café.
O cafeeiro daria seus primeiros frutos no terceiro ou quarto
ano de vida, mas somente no sexto ano, estaria em plena produção. A
capina era feita duas vezes ao ano. Aproximando-se a época da
colheita(no início dos meses de abril ou maio, indo até
setembro/outubro), fazia-se capina para facilitar a catagem dos grãos
que caíssem no chão.
A colheita era feita pelos escravos que tiravam
os frutos correndo a mão de cima para baixo dos galhos, o que se chamava
derriçagem.
O fruto colhido caía numa peneira que o escravo trazia
presa à cintura. Com um movimento de abano os frutos eram jogados para o
alto, caindo novamente na peneira, ficando café por baixo e as
impurezas(como folha, pedaços de galhos, etc.), facilitando, assim, uma
primeira limpeza.
Em seguida, os frutos eram colocados em balaios que seriam transportados para o terreiro de café, junto à casa grande.
Depois
de colhido, o café era colocado nos terreiros para secagem ou, então,
levado diretamente para tanques com água(o café conhecido como
“lavado”).
Nos terreiros, os grãos eram revolvidos vários por dia,
com rodos de madeira, para que secassem de maneira mais homogênea. No
final do dia, o café era empilhado em vários montes que eram cobertos
por sacos ou esteiras a fim de evitar o orvalho da madrugada.
A secagem levava cerca de 30 dias.
O café seco no terreiro, permanecia com duas “capas” que envolvem o fruto: a polpa(ou coco) e a casquinha(uma pele mais fina).
Para
retirar a polpa, emprega-se também uma maneira bastante rudimentar que
era bater o café em coco com varas, em seguida, passando ao pilão
manual.
Depois de socado o café, usavam-se os abanos de taquara(peneiras) para peneirar separando-se, assim, os grãos das cascas.
Após
o despolpamento, restando apenas uma fina película, o pergaminho que
vai ao engenho de soque para limpar e brunir é usado o Monjolo(pilão de
um só braço movido à água, é o mais antigo engenho que se conhece).
Após o beneficiamento, o café é torrado e moído.
Podemos
citar o Comendador Manuel da Rocha Leão, proprietário da Fazenda
“Cachoeira”, cujo café obteve prêmio de alto preço – medalha de ouro. O
galardão só foi conferido a três dentre cerca de 100 grupos do produto,
na Exposição de Paris, em 1866.
Na década de 1870, o Comendador Rocha
Leão adquiria, na Inglaterra, 7 milhas de trilhos para a projetada via
férrea, que teria de percorrer suas lavouras, situadas em Itatiaia,
hoje, Nhangapi, pertencentes a Campo Belo, hoje Itatiaia.
Outro
importante proprietário da Fazenda da “Serra”, o Cel. Tito Lívio
Martins, produziu grande quantidade de café em sua fazenda em Campo
Belo(Itatiaia).
Era filho de Dona Maria Benedita Gonçalves Martins, conhecida como a “Rainha do Café em Resende.”
Um
dos grandes cafeicultores da época, o Comendador Joaquim Gomes Jardim,
em sua fazenda “Valparaíso”(situada na freguesia de Campo Belo) produziu
8.551 arrobas de café no ano de 1860.
Em 1876, Domingos Gomes
Jardim, descendente do Comendador Joaquim Gomes Jardim, receberia na
Feira da Filadélfia o prêmio de “ALTA QUALIDADE”.
Na Exposição
Regional de 2 de dezembro de 1885, destacava-se o café tipo “Moca”da
fazenda “Itatiaia”, de Rocha Leão, e “Valparaíso”, de Domingos Gomes
Jardim, ambas na Freguesia de Campo Belo.
O transporte do café em
Campo Belo(Itatiaia) para o Rio de Janeiro passou por três etapas: via
terrestre, com as tropas de mulas que alcançavam os portos angrenses
para daí, por via marítima, chegar à Corte. Na época, um dos grandes
comerciantes de Campo Belo(Itatiaia)Diogo dos Santos Pinto mantinha 40
tropas, com 10 mulas cada, perfazendo 400 mulas, levando sua mercadoria,
via Ariró, Mambucaba, enfrentando caminhos esburacados, lodacentos,à
vista da morraria que deve ter inspirado o nome de “Quebra Cangalha”, o
que levava de 5 a 6 dias de viagem das tropas.
A segunda etapa foi a
via fluvial, pelo Rio Paraíba, de Campo Belo(Itatiaia) até Barra do
Piraí, no início da década de 1860, com a chegada dos trilhos da Estrada
de Ferro D. Pedro II à freguesia de Barra do Piraí.
No transporte
por via fluvial se fazia três viagens(ida e volta), cada uma
mensalmente, de 25 a 30 barcas, levando cada uma 250, 300 e 400 arrobas
do café dos cafeicultores da região de Bananal, São José do Barreiro,
Areias, Queluz, Sul de Minas e Campo Belo, armazenados nas Casas
Comerciais, na época em Campo Belo. Os grandes intermediários eram as
Firmas: Irmãos & Rocha Bernardes, com 100.00 arrobas, Teixeira Braga
com 60.000 arrobas; Pinto & companhia com 100.000 arrobas e a Casa
Comercial de Diogo Santos Pinto, com 100.000 arrobas de café.
O maior
entreposto alfandegário do Rio Paraíba em Campo Belo pertencia a Diogo
Santos Pinto; pelo volume de suas operações, essa riqueza continuou
ininterrupta até fins de 1888.
A terceira fase foi com a chegada da Estrada de Ferro D. Pedro II a Resende e Campo Belo.
Desde
que se abriu a estação de Campo Belo em 1873, da Estrada de Ferro D.
Pedro II, o comércio entre nós esmoreceu, a navegação do Paraíba estava
nesse caso e desapareceu com a estrada de ferro. (“O Jornal”, em junho
de 1873, atestava: “Na realidade, a estrada de ferro daria o golpe de
morte na navegação do Paraíba.”)
A lavoura,
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